METAMORFOSES
Nossa vida vai mudar
Do litoral ao sertão
O torrão virando mar
O mar virando torrão
A natureza se vinga
Inundando a caatinga
Ajudando a mutação.
O vaqueiro destemido
Vai se tornar pescador
E o pescador, perdido,
Tornar-se-á aboiador,
Troca o barco num cavalo
Passa a confiar no galo
Pra ser seu despertador.
A rendeira que tecia
Vai fazer um jereré
Para pescar todo dia
Peixe, siri, jacaré,
Nas margens duma lagoa
Vida passa e tempo voa
Pegando tucunaré.
O cantador repentista
Vai guardar sua viola
Nessa terra de artista
Passa a fazer mariola
Que aqui tem tradição
Logo após a refeição
Que na mesa desenrola.
O criador de jumentos
Não mudou de profissão
Fez estacionamentos
E trabalha sem patrão
Alugando o dia inteiro
Pra turista estrangeiro
O símbolo do meu sertão.
O cansado agricultor
Já trocou a sua enxada
Ele hoje é vendedor
De tapioca e cocada
Oferece pra turista
Carioca ou paulista
De bobeira na calçada.
Coitado do bóia-fria
Que carrega a marmita
Trabalha com alegria
Mas o estudo evita
Bem podia ser surfista
Ou talvez malabarista
Assim a vida permita.
O criador de caprino
Já mudou de profissão
Chamou mulher e menino
Pra dizer em confissão
Eu deixei de criar bode
Só quem pode se sacode
Política é minha missão.
A louçeira e o artesão
Trabalharão em equipe
Numa nova profissão
Na praia, guiando jipe,
Mostrando aos turistas
Paisagens e belas vistas
Procure-os e participe.
Mocinhas da capital
Que viviam das belezas
Encontradas no litoral
Antes de nossas proezas
Hoje, plantam em canteiro,
Seu coentro dá dinheiro
Vendido nas redondezas.
EUGÊNIO GOMES DE MACÊDO.